Alguns rituais indígenas nos parecem estranhos. E quanto menos conhecemos a cultura em questão, mais estranho fica. Vejamos o chamado Potlatch, ocorrido na ilha de Vancouver, uma área muito gelada, onde o bem material mais precioso é o óleo de baleia usado para manter as casas aquecidas.
O povo em questão se chama Kwakiutl. Suas aldeias ficam próximas à praia, entre as florestas. Vivem em casas de madeira e pescam em canoas grandes no meio dos canais e fiordes da ilha. Levam o que chamaríamos de uma vida humilde.
Os chefes Kwakiutl são adeptos de um curioso desejo, chamado pelos antropólogos de “compulsão para o prestígio”. Eles estão sempre inseguros quanto ao seu status. Assim, o líder da aldeia, a todo o momento, tem de provar aos seus prováveis sucessores que é digno do posto de comando.
De tempos em tempos, o chefe de uma aldeia Kwakiutl promove o potlatch, onde o principal objetivo é mostrar ao seu hóspede – e virtual rival – que está habilitado para responsabilidade a ele atribuída. Como prova, o anfitrião e seus seguidores ofertam aos visitantes as dádivas mais valiosas da aldeia. O chefe oferece vasos de óleo, peixes, frutas e cobertores, enquanto se gaba contando cada presente. Muitas vezes, quando os visitantes não conseguem mais carregar os mimos, o líder inicia a queima do restante do material. Quanto maior a fogueira, mais alto o status, e se a fogueira incendeia a própria casa, ele atinge o auge da fama. Após a ostentação, o visitante volta para sua aldeia envergonhado e com a obrigação de retribuir a cerimônia.
Esquisito? Não tanto numa sociedade como a nossa, em que muitas vezes os indivíduos são avaliados conforme sua aparência ou fama. Dentro desta perspectiva, ostentar, virou o lema de muita gente.
Quem não conhece alguém que trabalha arduamente para ter o carro da moda? Ou então aqueles que preferem comprar um celular de última geração, enquanto deixam de pagar a conta de luz.
No meio acadêmico não é diferente. Assim como os chefes Kwakiutl, muitos vivem citando autores, falando difícil e exibindo pilhas e pilhas de livros. Não chegam a queimar ou mesmo emprestar seus bens para os espectadores, mas ostentam seu conhecimento como pavões em época de reprodução. E o pior é que em muitos casos, apenas decoram trechos, ou lêem somente as orelhas dos livros. Aqui, parecer saber é mais importante que realmente saber.
Ainda em tempo, um ditado esquimó: “presentes fazem escravos como chicotes fazem cachorros”.
Abril 2005
Um comentário:
E viva o Aléxis! Heheheheh
Abraço!
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