Blog do Disma

Olhe, leia, opine.

25/05/2008

Textos Antigos (III)

Ostentar é preciso*

Alguns rituais indígenas nos parecem estranhos. E quanto menos conhecemos a cultura em questão, mais estranho fica. Vejamos o chamado Potlatch, ocorrido na ilha de Vancouver, uma área muito gelada, onde o bem material mais precioso é o óleo de baleia usado para manter as casas aquecidas.

O povo em questão se chama Kwakiutl. Suas aldeias ficam próximas à praia, entre as florestas. Vivem em casas de madeira e pescam em canoas grandes no meio dos canais e fiordes da ilha. Levam o que chamaríamos de uma vida humilde.

Os chefes Kwakiutl são adeptos de um curioso desejo, chamado pelos antropólogos de “compulsão para o prestígio”. Eles estão sempre inseguros quanto ao seu status. Assim, o líder da aldeia, a todo o momento, tem de provar aos seus prováveis sucessores que é digno do posto de comando.

De tempos em tempos, o chefe de uma aldeia Kwakiutl promove o potlatch, onde o principal objetivo é mostrar ao seu hóspede – e virtual rival – que está habilitado para responsabilidade a ele atribuída. Como prova, o anfitrião e seus seguidores ofertam aos visitantes as dádivas mais valiosas da aldeia. O chefe oferece vasos de óleo, peixes, frutas e cobertores, enquanto se gaba contando cada presente. Muitas vezes, quando os visitantes não conseguem mais carregar os mimos, o líder inicia a queima do restante do material. Quanto maior a fogueira, mais alto o status, e se a fogueira incendeia a própria casa, ele atinge o auge da fama. Após a ostentação, o visitante volta para sua aldeia envergonhado e com a obrigação de retribuir a cerimônia.

Esquisito? Não tanto numa sociedade como a nossa, em que muitas vezes os indivíduos são avaliados conforme sua aparência ou fama. Dentro desta perspectiva, ostentar, virou o lema de muita gente.

Quem não conhece alguém que trabalha arduamente para ter o carro da moda? Ou então aqueles que preferem comprar um celular de última geração, enquanto deixam de pagar a conta de luz.

No meio acadêmico não é diferente. Assim como os chefes Kwakiutl, muitos vivem citando autores, falando difícil e exibindo pilhas e pilhas de livros. Não chegam a queimar ou mesmo emprestar seus bens para os espectadores, mas ostentam seu conhecimento como pavões em época de reprodução. E o pior é que em muitos casos, apenas decoram trechos, ou lêem somente as orelhas dos livros. Aqui, parecer saber é mais importante que realmente saber.

Ainda em tempo, um ditado esquimó: “presentes fazem escravos como chicotes fazem cachorros”.

Abril 2005


* Texto inspirado no capítulo Potlatch, do livro: Vacas, porcos, guerras e bruxas, de Marvin Harris.

19/05/2008

Dentro de sala... (5)*

Professora de matemática:
- Nota baixa novamente... Você tirou 3!

Aluno:
- Ah professora... Na matemática sou ruim, mas em português eu destróio!

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*Fatos reais de uma sala de aula na Forquilhinha

11/05/2008

Quase um roteiro (11/2004)


Sorria, você está sendo filmado
(Primeira e última cena)




Primeira Cena: imagem de um formigueiro De cima, vai aproximando, passando para uma fileira de formigas - focalizando o encontro das formigas (se tocam e vão embora). Corte para o centro de uma grande cidade, visto de cima, vem focalizando, passando para um calçadão – focalizando o encontro de duas pessoas (que com a rapidez do dia-a-dia pouco conversam e se despedem)
.

...


Final: personagem principal após perceber que é filmado em todos os lugares acaba entrando em paranóia e enlouquece.
A cena: câmera parada no canto alto de uma sala, simulando uma câmera de vigilância. O personagem surge entre as pessoas e vem se aproximando, passa pela câmera, dá uma olhada desconfiado e sai. Mais uma câmera e a mesma coisa (ambientes diferentes), na terceira percebe que está seno perseguido e começa a fugir. É pego por outra câmera (estacionamento, prédio, rua, - ampliando ambientes) sai na rua e continua vigiado, começa a gritar e entra em pânico, as pessoas param e ficam olhando passivas. Até que surge um médico e o leva a um hospital psiquiátrico. Agora ele está numa sala totalmente branca, abatido, magro, zonzo de drogas (visão embaçada). Quando volta a si percebe que está sendo filmado por um pequena câmera com a mensagem abaixo “sorria vc esta sendo filmado”.

06/05/2008

Domingo de Futebol




Muitos amantes do futebol dizem que o campeonato por pontos corridos é a forma mais justa de encontrar um vencedor. Certamente é a mais justa, mas está longe de ser a mais emocionante.

Prova disso foram as finais dos campeonatos estaduais deste último domingo 04/05/08. Acompanhei meus dois times pela televisão e rádio. O Mengão sagrou-se bi-campeão do Rio de Janeiro, conquistando seu trigésimo título estadual depois de uma vitória avassaladora por 3x1 com dois gols do predestinado Obina diante do Botafogo. A nação rubro-negra novamente deu um verdadeiro espetáculo e chegou até mesmo cantar "Mamãe eu quero" em homenagem aos botafoguenses! Já o Figueira conseguiu seu primeiro título fora de seu estádio vencendo o Criciúma na prorrogação em um campo enlameado por 1x0. Este foi o décimo quinto título da História do clube do Estreito, distanciando ainda mais dos rivais estaduais.Com certeza um domingo inesquecível para um rubro-negro / alvinegro como eu, até porque meus dois times sairam atrás e conseguiram virar o placar.

Somente com jogos decisivos é possível um jogador medíocre ficar marcado na História de um clube, um erro do árbitro ser lembrado, e mesmo um time inferior vencer o melhor do campeonato. Futebol é paixão, e a paixão -emocionante por essência- nunca é justa.